Se o processo de perda de importância da indústria
já aconteceu nas economias mais avançadas, o Brasil deve se preocupar?
São Paulo
– Os números da indústria brasileira divulgados hoje mostram melhora em relação
a dezembro, mas queda em relação ao ano passado.
Olhando
para o longo prazo, o diagnóstico é claro: o Brasil está se desindustrializando.
A
indústria teve em 2013 o menor peso no PIB brasileiro desde 2000, de acordo com
os números do IBGE.
Usando
outra metodologia, o diagnóstico é ainda mais dramático: em agosto, a Fiesp
concluiu que a importância da indústria brasileira voltou para níveis dos anos
50.
O processo
lembra o que acontece nos países desenvolvidos desde o final dos anos 70. Mas
se a desindustrialização vai chegar eventualmente, por que o Brasil deveria se
preocupar?
“Porque a
indústria brasileira nunca chegou a atingir seu potencial. Não dá pra falar que
essa é uma etapa natural e que podemos passar para o próximo nível”, diz
Luciana Saes, professora de história econômica da FEA-USP. Um dos argumentos
para essa posição é a questão da renda: de acordo com a Fiesp, a
desindustrialização aconteceu nas economias avançadas depois que elas atingiram
uma renda per capita na faixa dos US$ 19 mil. No Brasil, o processo começou
quando ele estava em US$ 7,5 mil.
Outro
argumentos de quem defende a indústria é que ela gera encadeamentos positivos
para o resto da economia e empregos com melhores condições e remuneração.
Nesse
sentido, o problema não é que o Brasil caminhou para o setor de serviços, e sim
para quais:
“Os que
mais crescem são os atrasados: o financeiro, de vigilância, comunicação, que
não geram tanto emprego de qualidade”, diz Nelson Marconi, coordenador do
Centro de Estudos sobre economia
brasileira da escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Para o
ex-ministro da Fazenda Maílson da Nobrega, a questão central não é a
desindustrialização em em si, mas como ela aconteceu:
“O
processo de transformação estrutural é inevitável e tende a ser mais rápido nas
economias que chegaram mais tarde, mas isso não significa que o que estamos
vendo no Brasil de hoje é bom. Nossa desindustrialização acelera por
deficiências internas e está associada não ao processo natural, mas a uma perda
grave de competividade da indústria brasileira, que tem origens mais remotas.”
Raízes
Algumas
destas origens são históricas. A partir de 1985, quando a indústria atingiu seu
pico, a economia brasileira passou a ser sacudida pela crise da dívida externa
e um cenário externo adverso.
Em 1994,
veio o Plano Real, cuja missão era estabilizar a economia e combater a
hiperinflação. Isso exigiu abertura comercial, juros altos e câmbio valorizado
– um tripé que tornou a indústria mais vulnerável à competição internacional:
“com a abertura dos anos 90, foi impossível se acomodar”, diz Nelson Marconi
Mas com
exceção de alguns setores, essa “destruição criativa” foi insuficiente para
colocar a indústria brasileira no caminho da produtividade em um momento no
qual ela se tornava cada vez mais essencial.
De acordo
com um estudo divulgado ontem pela McKinsey & Company, o PIB brasileiro
poderia ter crescido 45% a mais entre 1990 e 2000 sem o efeito negativo da
produtividade.
Obstáculos
E aí
entram os inúmeros obstáculos tributários, regulatórios e trabalhistas, além do
“custo brasil” imposto pela infraestrutura deficiente – citado como principal
problema por todos os economistas ouvidos por EXAME.com. Isso sem falar no
aumento da competição internacional.
Nos
últimos anos, o câmbio havia voltado a ser outra pedra na engrenagem: quando a
moeda do país está muito valorizada, fica mais barato importar do que produzir
internamente.
O aumento
da renda brasileira tem “vazado” para fora do país, e o resultado é a piora na
balança comercial e o aumento no déficit em conta corrente.
A
desvalorização recente do real pode amenizar estes problemas e até dar um
fôlego para a indústria, e os números de janeiro divulgados hoje já podem ser
um indício desta reação.
O que é
certo é que com desindustrialização ou não, o Brasil não vai se desenvolver
olhando para trás. O debate não é sobre qual indústria ou setor merece mais
proteção, e sim qual aponta para um futuro mais promissor.
“Em
algumas indústrias como a farmacêutica, biomédica, química e de energia, temos
um cavalo selvagem sendo segurado pelas rédeas. Mesmo com todo o custo brasil
do mundo, sempre temos oportunidades.”, diz José Augusto Fernandes, diretor de
políticas e estratégia da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
João Pedro Caleiro, de Exame
By: http://www.industriahoje.com.br/o-brasil-esta-se-desindustrializando-isso-e-ruim
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